quarta-feira, 6 de julho de 2011

[especial: ÁGORA LENDAS] São João Maria e a gruta milagrosa

Luciana Grande

Localizada no Vale do Rio Jordão e cercada por mistérios, a Gruta do Monge é atração turística de Guarapuava e região. Em seu interior há uma porção de objetos ofertados por pessoas que crêem no poder do monge São João Maria. Elas atribuem suas graças ou pedidos à fé que possuem neste profeta. Exemplo destes objetos são muletas, bengalas, terços, imagens sacras, fotografias, flores, entre outros. Há fiéis que se dirigem até a gruta para buscar alento e desabafar suas dores, tendo o monge como um confidente. A gruta, construída em homenagem ao peregrino São João Maria, foi idealizada pelo ex-prefeito de Guarapuava Nivaldo Krüger, ainda na década de 1970.

A Gruta do Monge foi construída há cerca de 40 anos e se localiza no Vale do Rio Jordão

Segundo relatos, em uma de suas passagens por Guarapuava, o monge teria abençoado uma fonte de água que nascia ao pé de uma imbuia, no Vale do Rio Jordão. Quando o monge passava pela cidade, costumava acomodar-se exatamente neste local. Com o tempo, a árvore foi cortada, mas o olho d’água permaneceu. “Construí a capela em cima da fonte, correspondendo à crença popular de que o monge era, de fato, milagroso”, conta o ex-prefeito.

Muitas pessoas vão até o local para coletar a água “benta”, que é utilizada como remédio para curar doenças ou feridas. Há crentes que se valem da água até para realizar batizados. Nesses casos, durante a cerimônia, a figura do Padre é dispensada, pois acredita-se que São João Maria assume esse papel.

A dona-de-casa Josefa de Lara comenta que vai à gruta com freqüência para buscar a água que considera milagrosa. Ela já participou de batizados realizados a partir da fé no peregrino São João Maria e comenta que acredita no poder do monge de curar doenças. “Sempre tomo um copo de água tirada da fonte. Sei que dessa forma estou cuidando da minha saúde”.

No município da Lapa (PR), São João Maria também possui muitos devotos. Lá existe uma gruta natural dedicada a ele, bastante visitada, que se relaciona com suas passagens pelo local. O peregrino possui crentes em vários distritos dos três estados do sul do país.

Dentro da gruta, há uma série de objetos ofertados ao monge por fiéis

O poder do Monge

São João Maria era um monge cristão de origem italiana, que levava uma vida peregrina e vivia de donativos das pessoas que acreditavam em sua santidade. Ele pregava o bem, atendia doentes e acreditava-se que era capaz de fazer milagres. Além disso, era identificado como um homem que caminhava de pés descalços, possuía uma barba longa e era bastante severo. O monge tinha por costume abençoar ou amaldiçoar o local por onde passava, conforme fosse recebido pelas pessoas.

Era comum que São João Maria abençoasse olhos d’água e fontes dos locais por onde caminhava. Às águas desses locais, então, é atribuído um caráter milagroso, de cura. A fonte localizada às margens do rio Jordão, em Guarapuava, é um exemplo disso.

Outro fato importante atribuído ao monge é a sua participação indireta na Guerra do Contestado. Este conflito aconteceu entre a população cabocla dos estados de Santa Catarina e Paraná e o governo estadual e federal. A questão girava em torno de uma região rica em madeira e erva-mate. Foi São João Maria que impulsionou o messianismo da população da época, o que mais tarde influenciou o decorrer dos conflitos. Mais dois monges participaram diretamente dessa guerra, ambos usando codinomes que remetiam ao primeiro: José Maria e José Maria de Santo Agustinho. “Estes eram falsos monges, que diziam ser a ressurreição de São João Maria para ganhar credibilidade diante do povo”, explica ainda Krüger.

A morte do monge São João Maria foi oficialmente registrada por historiadores em 1870. No entanto, devido ao misticismo em torno de sua figura, acredita-se que ele não morreu, e sim “desapareceu” na hora em que lhe foi conveniente.

São João Maria é considerado milagroso por muitas pessoas

Editado por Yorran Barone

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