quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Dia a dia no ringue


Luciana Grande

Araripe Boi, um dos melhores lutadores de MMA da região, conta sobre sua carreira no esporte

Araripe Abreu, popularmente conhecido como Araripe Boi, é o lutador de MMA (Artes Marciais Mistas) mais conceituado de Guarapuava. Além de ser o que possui maior número de lutas. Faz parte da equipe “PR Vale-tudo”, que conta com mais de 20 lutadores de diversas categorias, sendo que Araripe faz parte da meio-médio, com 77 kg. Hoje, ele tem 25 lutas e 16 vitórias. É tricampeão paranaense de jiu-jitsu e também tricampeão da copa Toicas Toyota.
Apesar de ser natural do município de Pinhão, o lutador mora em Guarapuava há mais de 10 anos. Hoje está com 33 anos, mas tem contato com a luta desde os 13, quando começou a treinar karatê e judô. No entanto, como sempre gostou de adrenalina, acabou tornando-se lutador de jiu-jitsu e MMA aos 23 anos.
A rotina de treinos é intensa. Logo cedo, o atleta inicia suas atividades, pela manhã Araripe corre, faz natação e musculação. À tarde, treina muay thai, boxe e jiu-jitsu.
Após três anos afastado dos ringues, em consequência de uma lesão no joelho, Araripe voltou em agosto desse ano e conquistou a vitória mais rápida da carreira dele: um nocaute em 43 segundos. Em entrevista, ele falou sobre a trajetória da carreira como lutador e da paixão pelo esporte.

Araripe é lutador de MMA há mais de 10 anos

Como você iniciou sua carreira como lutador?
Com 13 anos, comecei a treinar karatê. Depois de ficar cinco nessa modalidade e chegar até a faixa preta, percebi que não era aquilo que queria. Então comecei a treinar judô, cheguei até a faixa marrom, mas percebi que também não era aquilo que queria. Eu precisava de mais adrenalina.
Aí comecei a treinar jiu-jitsu, relativamente tarde, com 23 anos, em 2000. Era mais intenso, a adrenalina era bem maior, por isso gostei bem mais. No ano de 2000 mesmo, quando ainda era faixa azul, fui convidado pra lutar o MMA, que antes era conhecido como vale tudo.
Eu estreei aqui em Guarapuava lutando contra um adversário de São Paulo e acabei me saindo muito bem, consegui finalizar o cara. A partir de então, o rumo da minha carreira acabou se voltando pro MMA.

E por que isso aconteceu?
A gente que é atleta e vive disso, muitas vezes precisa buscar aquilo que rende mais dinheiro. E hoje em dia, no meio de artes marciais, o que dá mais dinheiro é o MMA. Hoje esse esporte se tornou mais relevante do que o boxe. Nos EUA, ele já está quase ultrapassando o basquete, que é o 3º maior esporte no país. Isso no que se refere à mídia e às apostas, porque nos Estados Unidos eles fazem bastante apostas.

Dessas 25 lutas que participou até hoje, você chegou a se machucar muito em alguma?
Já, com certeza. Mas, na verdade, a gente acaba se machucando mais nos treinos do que nas lutas mesmo, porque é preciso treinar bem forte pra ser mais fácil no ringue. Eu já fiz duas cirurgias nos joelhos, que machuquei durante lutas. Além disso, tive também uma lesão na coluna e outra na cervical. Na verdade, os médicos queriam operar essas lesões, mas eu não quis porque teria que ficar muito tempo parado. Em razão das cirurgias no joelho fiquei três anos sem lutar, voltei esse ano.

E você sente medo às vezes antes das lutas?
Não, nunca. A adrenalina é muito grande, muito intensa. Eu tenho paixão pelo que faço, não vivo sem isso, tenho que treinar todos os dias.

Quando você está no ringue, sente raiva do adversário?
Não, de forma alguma. Você sente que precisa fazer a sua perfeição pra ganhar dele. Na maioria das vezes, fica tudo na amizade, até saímos jantar juntos depois, com as equipes. Já lutei até com amigos. Tem uma história bem legal, eu e meu adversário fomos lutar no Rio Grande do Sul e viajamos 900 km no mesmo carro. Nessa época, existia o campeonato super oito, eram quatro lutadores de um lado e quatro do outro, tudo mata-mata. Aí eu e ele acabamos fechando a final. Na luta, eu quebrei uma costela dele, ele quebrou meu nariz, mas ele acabou vencendo... Então, quando estávamos voltando, viemos um deitado no ombro do outro, dormindo, aí a gente brincava “ah, você quebrou a costela”, e o outro “e você quebrou o nariz” (risos). Mas quando nós fizemos uma revanche aqui eu ganhei dele. Hoje em dia, a gente faz parte da mesma equipe, a Paraná Vale-Tudo.

Dessas 25 lutas que você já participou até hoje, teve alguma que marcou mais por alguma razão especial?
Teve uma luta que foi aqui mesmo, no campeonato Toicas Toyota. Eu lutei apenas um round contra o meu adversário, só que ele me surrou o tempo inteiro. Foram cinco minutos de pisão na cara, no gogó, chutes e socos no rosto... Só apanhei. Aí acabou o round e nós fomos para o intervalo. Eu estava mal, tentando me recuperar pra continuar a luta, aí quando eu já estava me aquecendo para voltar, lá do outro lado ele me olhou e desmaiou, teve uma parada respiratória. Apanhei tanto que acabei ganhando a luta, porque ele ficou cansado de tanto me bater (risos).

Recentemente, dia 20 de agosto, você venceu uma luta em Londrina em apenas 43 segundos. Como foi isso?
Nesse dia, me ligaram às 13h perguntando se eu poderia ir substituir um lutador da minha equipe em Londrina, porque ele não poderia comparecer. Aí eu disse que sim, saí daqui 14h e cheguei lá 18h30. Então, acertamos a substituição e 20h30 eu já tinha que estar no ringue, foi tudo bem corrido. O adversário pesava 85kg e eu 78kg. Mas foi nessa luta que consegui algo inédito na minha carreira: o nocaute mais rápido da noite, 43 segundos, com um soco cruzado. E foi especial porque eu estava parado há três anos, me recuperando de uma cirurgia. E depois de tanto tempo sem lutar foi muito bom voltar com uma vitória brilhante como essa. Foi a adrenalina mais intensa que já senti em uma competição. A plateia foi à loucura.


Araripe logo após a vitória em 43 segundos no K.O. Fight - Gravidade Zero, em Londrina

E foi em razão dessa luta que você foi lutar no Rio de Janeiro mês passado?
Sim, por causa dessa luta fui para o WOCS, no Rio de Janeiro, que é um evento paralelo ao UFC. Lá eu também ganhei no primeiro round, depois de um minuto e quarenta segundos de luta dei nocaute no adversário. Foram duas vitórias seguidas na minha volta ao ringue, esse ano está sendo muito bom para mim.

Qual foi a luta mais difícil da sua carreira, em que você se machucou bastante?
Teve uma luta que foi muito complicada porque eu lutei três vezes na mesma noite. Foi um evento bem pesado em Londrina, eu lutei com um cara que me bateu por nove minutos, e eram 10 minutos de round. Aí eu quebrei o meu nariz, o médico avaliou para ver se eu poderia continuar, então eu disse que por mim voltava e ele deixou. Quando voltei pra luta, consegui me recuperar e finalizar o adversário, quando faltavam apenas dois segundos para terminar a luta. Um pouco depois já fui para outra, com o nariz quebrado, mas também consegui dar nocaute nesse adversário. Então, fui pra próxima luta seguida, quebrado, cansado... Mas também consegui finalizar esse adversário. Foram três vitórias seguidas na noite.

Você também dá aula de jiu-jitsu, certo? Gosta disso também?
Sim, dou aula para pessoas acima de 15 anos. Eu amo ensinar, é legal passar pra outras pessoas as coisas que você sabe fazer, ainda mais quando tem paixão pelo que faz. E meus alunos sempre voltam com títulos quando vão lutar. Tem um que é tricampeão paranaense.

Eu tenho uma curiosidade, que não deve ser só minha, mas que sempre me pergunto: como vocês aprendem a lidar com a dor?
No momento em que a gente está lutando, não sente dor nenhuma. No outro dia você sente, aí sim dói bastante, mas na hora nem vê. Esses dias em um treino eu levei uma joelhada, quebrei dois dentes, levei sete pontos na boca, mas na hora nem senti. Continuei rolando e de repente vi que o tatame ficou lavado de sangue. Mas na hora a adrenalina é bem maior do que a dor. É bem como dizem: “o lutador é imune à dor”.



As várias medalhas e troféus conquistadas ao longo da carreira como lutador


Editado por Helena Krüger

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