sábado, 15 de outubro de 2011

Escondida do mundo

Vinicius Comoti

A cidade é vista de longe, embaraçada pela poeira dispersada pelo movimento na terra batida. Ao redor uma casa chama atenção pelo espaço, e principalmente pela condição. Maria escuta passos e palmas, retira a madeira que faz um papel simbólico de porta ao mesmo tempo em que várias crianças vão escorrendo entre suas pernas. Atraídas pela visita, a curiosidade transforma o ambiente em um verdadeiro purgatório infantil. "Quem é você? , isso é uma máquina de foto?, onde você mora?".

Foto: Vinicius Comoti
A casa de Maria não tem saneamento básico, além de sofrer periódicas tormentas

Maria tem 37 anos e é mãe de quatro filhos. Juliana, Rafael, Marcos e Rodrigo. Crianças que parecem enxergar sua realidade de uma maneira lúdica, exercendo nos sorrisos e brincadeiras um tom nada condizente com sua condição. Juliana tem apenas 7 meses, enquanto Rafael e Marcos tem 7 e 9 anos, respectivamente. Rodrigo tem 4 anos, e para Maria é o que mais dá trabalho. "Como o pai dessas crianças foi preso, eu costumo falar que eu sou a mãe e o pai dessas crianças. Todas elas estudam e sempre que posso tento conseguir algo para eles. O Rodrigo ainda me preocupa muito, por ter que tomar uns remédios para sua saúde. Ele acabou de sair de uma pneumonia".
O barraco espanta pelo aspecto. A cozinha é permeada de mosquitos que zunem em torno de alguns restos de comida. O chão é desnivelado, pois algumas madeiras se romperam e acabaram causando um verdadeiro foço. Sem muitas opções, Maria tenta conseguir alguma renda catando produtos recicláveis pelas ruas da cidade, mas atualmente não pode atrelar ao trabalho porque sua carroça está em pedaços com os dois pneus furados. "Nos morávamos lá no Paz e Bem, até que uma noite a vela caiu enquanto estávamos dormindo. O fogo destruiu praticamente tudo, conseguir salvar meus filhos e só. Depois de alguns dias viemos para o Cascavelzinho, onde em três dias montamos esses barraquinhos. É complicado, não vejo solução. Além de não conseguir ajuda eu não estou trabalhando. Tenho sorte porque muitas pessoas param no meio da rua e vem entregar brinquedos e comida".

Foto: Vinicius Comoti
A criançada e sua principal diversão: a égua

A manhã vai caminhando para o seu final enquanto as crianças se divertem com a égua, que Maria ganhou de sua mãe. Na poeira incessante arrastada pela vazia vizinhança, à destemida Maria se despede desejando que algum dia sua vida possa melhorar." Não acredito mais nos políticos. Eles chegam aqui em época de eleição, depois nunca mais aparecem. Vou pedir um dinheiro emprestado e vou arrumar essa carroça. Assim quem sabe eu consigo alguma coisa."

Foto: Vinicius Comoti
Com o carrinho quebrado o destino é esperar alguma ajuda

Editado por Helena Krüger

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