quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Marretadas da Esperança


Vinicius Comoti

No desolado bairro Paz e Bem algo chama a atenção. Tornados de poeira rompem a totalidade, transparecendo um chamativo extremo. Máquinas e alguns homens articulam o projeto de uma futura rede de esgoto, na qual beneficiará os moradores que tanto sofrem com esse acúmulo, remetendo o fluxo para um sistema apropriado que não comprometa as residências. Juarez Moura é um dos trabalhadores envolvidos na obra, tem 30 anos e "arrebenta" pedras das seis da manhã as cinco da tarde. O trabalho é duro, mas o esforço compensa quando o assunto é dinheiro. "É um trabalho duro, cansativo , mas nunca me deu nenhum problema de saúde. Vale a pena, eu ganho por semana o que eu ganharia por mês em muita fábrica por aí."

"Sofro como todo morador. Sempre morei no bairro e sempre teve esse esgoto aberto"

O relógio já marcava o horário do almoço, comprovado pelo forte sol rompendo a vista. Sem camisa, Juarez já expõe sintomas de queimaduras. Intrigado com o bronzeado, despejo minha curiosidade. Você está usando protetor solar? Já ouviu falar em câncer de pele? Suas costas não estão doendo? - E a resposta surpreende - "Nunca precisei usar não, vou começar a usar protetor Sei que o câncer mata. Mas sempre fui acostumado."

Questionado sobre o futuro da obra, Juarez ressalta a importância desta, ainda mais porque também vive com sua família no Paz e Bem. Conhece de perto o enxerto mórbido do esgoto á céu aberto, que invadindo casas, gera sujeira além de um grande desconforto na higiene básica "Sofro como todo morador. Sempre morei no bairro e sempre teve esse esgoto aberto. Crianças brincando onde facilmente poderiam contaminar-se, as casas com suas calçadas cheia de sujeira.
Mas o problema maior era quando chovia e transbordava as foças, não gosto nem de lembrar."

Rigorosas batidas que além de simétricas, desenham a esperança de um futuro melhor

Um olhar esquivo aliado a gestos reprimidos marcam a fala de Juarez, que mesmo conversando continua quebrando as pedras. Algumas pedras chegam a lembrar de algo mitológico pelo tamanho de suas medidas. Mas logo percebo a essência do trabalho. Máquinas retiram essas grandes lascas do terreno. Entra em cena Juarez com as suas lapidadas, comprimindo estas até chegarem num formato ideal de manuseio e transporte. "Se você for pegar a marreta e tentar bater nela, você não vai conseguir porque além de ser pesada tem que ter jeito. Muita gente acha que é força, mas não é não. Com o tempo fui pegando o jeito."

Agradeço a atenção e não me esqueço de alertar sobre o protetor. Rumo ao caminho escuto as rigorosas batidas, que além de simétricas, desenham a esperança de um futuro melhor.

Editado por Yorran Barone

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