quinta-feira, 7 de julho de 2011

Quando a obsessão se torna um transtorno

Ana Carolina Pereira

Os transtornos alimentares apresentam os primeiros sintomas no período de transição da infância para a adolescência. A obsessão, que inicialmente pode surgir de pequenas preocupações com o estereótipo de beleza, pode virar um transtorno e se tornar algo mais grave e, como consequência, privar os princípios básicos de uma alimentação saudável, conquistando a ilusão dos insatisfeitos com o próprio corpo.


A obsessão pode surgir de pequenas preocupações

A bulimia é um exemplo clássico de transtorno alimentar, correspondendo a um quadro de desequilíbrio psicológico decorrente das alterações no comportamento alimentar. Momentos de voracidade por alimentos, seguidos de culpa, abuso de agentes purgativos e auto-indução ao vômito são características da rotina de um bulímico.

O distúrbio, que começou a ser estudado pela medicina no início da década de 1940, até 1970, não era reconhecido como um transtorno psiquiátrico. Já em 1980, com o surgimento do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais III, houve uma conscientização sobre o quadro clínico da doença seguido do aperfeiçoamento de técnicas de diagnósticos e métodos de tratamento. As preocupações com a aparência surgem logo cedo, como relata a estudante e vítima da doença V.R., que prefere não se identificar. “Aos quinze anos, comecei a comer descontroladamente e a engordar, quando me informei sobre a bulimia vi que poderia dar certo”.

Nos últimos anos, a bulimia ficou reconhecida como a síndrome da modernidade, com incidência maior de casos entre mulheres de 15 a 25 anos. Com isso, a doença tornou-se um desafio enfrentado mundialmente. No Brasil, por exemplo, ela corresponde de 2% a 3% das mulheres. As conseqüências deixam marcas para toda a vida, como afirma V.R. “O pior foi quando eu tomei uma mistura de Franol, aspirina e café, quase me deu uma taquicardia. Sem falar na depressão que anda de mãos atadas com a bulimia. Mas a pior marca que a doença deixou foi ter desenvolvido gastrite".

Além dos conflitos induzidos pela ideologia da magreza, a bulimia desenvolve anomalia psíquica, caracterizada essencialmente pela variação de humor, motivação excessiva e instabilidade geral. É o que explica a nutricionista Darla Silvério: “um mix desses sentimentos permeiam o bulímico, a falta de controle é o mais comum, o que leva o paciente a comer desesperadamente como se fosse sua última refeição. Depois, forte sentimento de culpa toma conta, levando à depressão e a um novo quadro de descontrole e, assim, torna-se cíclico”.

Ela afirma também as dificuldades que permeiam o tratamento. “É um grande desafio, na verdade o principal apoio no início do tratamento é o de cunho psicológico, pois o acompanhamento nutricional só será efetivo se o paciente estiver consciente da sua situação e estiver disposto a mudá-la.

Michelle Stolfi, que por anos lutou contra o transtorno alimentar, relata a dificuldade que teve com a doença. “O sofrimento e a depressão tomaram conta da minha vida, quando não tive mais saída procurei um psicólogo e fiz acompanhamento nutricional para enfrentar a bulimia. Me tratei e aprendi a reconhecer a felicidade em pequenas coisas da vida”. A médica alerta: “a cura requer um tratamento multidisciplinar, com medicamentos, acompanhamentos psicológicos e nutricionais”.

O resultado é, também, relativo ao convívio familiar e social, como aponta a nutricionista. “Os fatores sociais e psíquicos são fundamentais para o sucesso do tratamento. Cada pessoa corresponde a uma forma, para alguns pode levar poucos meses, para outros até anos e, em casos mais graves, o acompanhamento por toda a vida é necessário”.


O abuso de agentes purgativos se torna frequente

Editado por Yorran Barone

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