terça-feira, 18 de outubro de 2011

Na manhã, nasce a esperança circunscrita em sujos pés

Vinicius Comoti

Lentamente Seu Ribson vem chegando. Caminhar discreto, carregando consigo uma antiga carriola cheia de plástico. Tem 47 anos e é natural de Guarapuava. Mora no bairro Madeirit, em uma humilde casa na qual convive com dois primos e a mulher. Através da venda dos materiais recicláveis consegue cerca de um salário mínimo por mês, razão pela qual não para de percorrer as ruas mesmo estando debilitado fisicamente. "Estou com um problema sério na coluna. Não consigo nem dormir direito. Espero que eu aguente mais uns aninhos."

Fotos: Vinicius Comoti
Ribson, mais um batalhador

Ribson Valentin Piazel não gosta de reclamar do destino, não se interessou pelos estudos e muito menos teve alguém para lhe incentivar. Desde pequeno trabalhou, na época em que morava no sítio, na lavoura, e depois que se mudou para a cidade, continuou fazendo uns bicos como pedreiro. "Desde pia eu trabalho, ajudando os meu pais. Arranjei uns trabalhos de pedreiro, mas depois de um tempo não tinha mais condição. Caminhar é difícil, mas na construção o serviço é mais duro. "

"Chega época de eleição os políticos se vestem de anjos. São uns verdadeiros demônios."

A rota diária envolve diversos lugares, desde Boqueirão, Santa Cruz até o Centro e suas delimitações. Andando e analisando os lixos, intercalando momentos preciosos de descanso". Tem dia que fica difícil, tenho que dar uma parada e descansar. Às vezes, é o sol forte, mas o complicado mesmo é o frio e a chuva. Mas fazer o quê, tenho que andar. Lembro de uma vez que fui pegar uns papelões e começou a cair uma chuva muito forte. Meu carrinho não aguentou, acabei perdendo todo o papelão. Algo que daria em torno de uns 10 reais."
Apesar da situação desfavorável, tanto economicamente como culturalmente, Seu Ribson não deixa de destilar seus raciocínios sobre a cidade. Acredita que os políticos são verdadeiros demônios, que além de roubarem algo que não lhes pertencem, iludem as pessoas necessitadas fazendo destas desiludidas em suas expectativas. "Não gosto desses demônios, que chegando a eleição se vestem de anjos para comprar o nosso voto com cesta básica e coberta. Depois desaparecem e nunca mais voltam. Não sei como conseguem dormir sossegado, tanto pecado".
"O papo está bom, mas as obrigações falam mais forte". E assim aquele senhor acanhado, arruma seu boné de aba torta e pega seu destino. Transbordando consciência e principalmente, indagações, acarreta em seu discurso um verdadeiro show de humanidade, sempre na perspectiva do olhar sobre o outro."

Sem remorso, Ribson insiste na vida

Editado por Helena Krüger

Nenhum comentário:

Postar um comentário