Gabriela Titon
Embora fundamental para o desempenho e bem-estar de qualquer colaborador, o tema “saúde e segurança no trabalho” ainda é frequentemente negligenciado. Fatores como iluminação, barulho e móveis inadequados interferem diretamente na produtividade. Em áreas como a construção civil, a falta de EPIs (equipamentos de proteção individual) pode ocasionar graves acidentes, prejudicando tanto o funcionário quanto o empreendimento. Já em escritórios, quem digita durante várias horas seguidas pode adquirir a LER (lesão por esforço repetitivo), atualmente conhecida como Dort (distúrbio osteo-muscular relacionado ao trabalho). Em ambos os casos, os problemas ultrapassam a barreira do trabalho e refletem na vida pessoal.
Na opinião do técnico em segurança do trabalho Johann Leandro Pollyak, qualquer pessoa pode ser afetada pelas condições da empresa e tem responsabilidade sobre elas. “A segurança não se restringe somente ao empregador ou ao empregado. Diz respeito ao empregador, ao empregado, ao governo e a comunidade em geral. Porque não atinge somente aquela pessoa ou a sua família, atinge uma gama grande de pessoas”.
Para evitar transtornos, é necessário priorizar aspectos de precaução. O PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) é um levantamento em que profissionais avaliam o ambiente de trabalho para determinar quais os riscos de cada função. Desta forma, a empresa deve implantar mudanças para minimizar ou eliminar os riscos. Em uma análise do ambiente profissional, são verificados riscos biológicos, físicos, químicos, ergonômicos e de acidente, de acordo com Pollyak. Em estabelecimentos de maior porte, é obrigatória a instalação de uma Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), composta por membros proprietários e empregados.
A orientação de quem atua no setor é solucionar o problema em sua fonte antes de tomar outras medidas. “Se existe um motor fazendo barulho, é mais fácil isolar o motor do que utilizar protetor auricular. Caso o problema não possa ser eliminado na fonte, são adotadas medidas como o uso de equipamentos de proteção”, exemplifica o técnico. As penalidades previstas pelo Ministério do Trabalho para quem não estiver de acordo com as leis incluem, dependendo da gravidade, interdição da empresa.
Para proporcionar qualidade de vida ao colaborador, é fundamental que o empresário entenda o custo de ações preventivas como um investimento, e não como um gasto adicional. Em relação à saúde, existe o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), que deve ser instituído por qualquer empresa. Por meio da realização de exames, é possível constatar se o trabalhador desenvolveu algum tipo de doença em seu emprego e acompanhar o quadro clínico.
Um conceito bastante discutido atualmente é a ergonomia, que estuda e aplica soluções para a relação entre o profissional, a atividade que desempenha e a organização em que atua. “A ergonomia visa o conforto do trabalhador. Então, não é adaptar o trabalhador ao móvel, mas sim adaptar o móvel ao trabalhador”, explica o diretor de uma empresa de segurança e medicina do trabalho, Edenilson José Coniezmi. “O estudo ergonômico é complexo. Um profissional fotografa e filma alguém trabalhando, e vê quais são os movimentos repetitivos, por exemplo. Dependendo da função, analisa qual é a melhor proteção. Aí entra ginástica laboral, exercícios, diminuição da carga horária, e outros fatores. Tenta acertar quais são as condições adequadas com a pessoa. É mais complexo o estudo ergonômico, porque depende de cada função. Uma instalação elétrica é igual em qualquer lugar, mas ergonomia é diferente”.
Foto: Gabriela Titon
Quem realiza movimentos repetitivos diariamente, como digitar, pode adquirir doenças ocupacionais
Conscientização e custo-benefício
As NRs (normas regulamentadoras), que determinam as responsabilidades da organização quanto à saúde e segurança, devem ser adotadas não somente para se evitar problemas como multas e indenizações, mas para que haja satisfação por parte dos servidores. De acordo com os profissionais da área, a legislação trabalhista brasileira é uma das melhores do mundo. Entretanto, nem sempre é cumprida.
Para Coniezmi, muitos funcionários de Guarapuava e região ainda se sujeitam a trabalhar em condições precárias. “O nosso maior problema não é o acidente de trabalho, mas o afastamento por doenças relacionadas ao trabalho. Problemas de coluna e de depressão, por exemplo, são grandes. O número de pessoas afastadas por problemas psicológicos na região é elevado. O maior problema é a doença, e não o acidente. O ruído, por exemplo, pode desencadear não só a diminuição da capacidade auditiva, mas também outros problemas relacionados, como úlcera no estômago e pressão alta”. De acordo com ele, as questões psicológicas geralmente são ignoradas, por se acreditar que representam apenas preguiça ou má vontade.
“Hoje, o trabalhador chega com um problema, vai ao posto de saúde, o médico dá três dias de afastamento, ele volta e acaba gerando de novo essa situação. Falta atendimento direcionado, educação do trabalhador, preocupação da própria saúde pública, e o empresário deveria ter consciência. Quando o empresário abre um negócio, ele adota o trabalhador, mas a maior preocupação é o maquinário”, lamentou o diretor.
Ambos os especialistas acreditam que, em muitos casos, não se considera o custo-benefício de investir nos colaboradores. Além de evitar perdas materiais e danos morais para a empresa, o funcionário que está saudável e seguro tem rendimento maior, já que se sente satisfeito e valorizado na profissão. A produtividade e a credibilidade da organização, consequentemente, são maiores. Contudo, eles destacam um fenômeno que tem elevado os padrões empresariais: os selos de qualidade que atestam as boas características de determinado produto, serviço ou corporação.
A situação só seria aperfeiçoada, como salienta Coniezmi, com a aplicação de certas ações. “Para melhorar, precisaria de três coisas: fiscalização mais frequente, não é mais rigorosa, e sim mais frequente; educação do trabalhador; e conscientização do empresário”. A mudança de ideias também é destacada como essencial para Pollyack: “É uma questão cultural. A partir do momento que a sociedade observar que não é só uma obrigação, e sim uma forma garantir a saúde e a integridade física de um pai de família, de uma mãe ou de um filho, a cultura começará a mudar. Não é a legislação, e sim a conscientização”.
Editado por Helena Krüger
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