sábado, 26 de novembro de 2011

Manifesto “Nada pode nos calar” clama pelo fim da violência

Helena Krüger

A manifestação contra homofobia reuniu acadêmicos, professores e representantes de entidades sindicais

Ontem (25) às 19h, em frente à praça da Unicentro, cerca de 25 pessoas protestaram contra a violência e a homofobia. A iniciativa para se realizar o evento partiu do acadêmico de secretariado executivo, Willian Nathan de Paula, em conjunto com o Grupo de Discussões Interdisciplinares Homoculturais (GADIH). Segundo Maxmiliam, integrante do grupo, já fazia algum tempo que este protesto estava para acontecer. Willian destacou que um dos propósitos da manifestação é protestar para que crimes contra homossexuais não se repitam em Guarapuava. “Nossa intenção é chamar atenção da sociedade, o manifesto não é só contra a homofobia, mas contra a violência que tem estado muito presente em nossa cidade. É necessário que o preconceito seja rompido”.

O manifesto, que aconteceu no Dia Internacional de combate à violência contra a mulher, não teve faixas, nem barulho, os acadêmicos apenas distribuíram velas para que os presentes acendessem em homenagem as vitimas de diversos crimes violentos que aconteceram em Guarapuava, e pediram um minuto de silêncio. Willian parabenizou os presentes e disse que para manifestar-se não é preciso gritar. “Mesmo numa demonstração silenciosa, estamos aqui expressando dessa forma nossa indignação e mostrando que nada vai nos calar”.

Foto: Helena Krüger

Manifestante com bandeira representando o movimento LGBT

Além dos universitários, a professora Liliane da Costa Freitag também se expressou a favor do movimento em nome do departamento de história da Unicentro, reiterando a importância de reivindicar contra qualquer forma de violência, seja com mulheres, crianças ou gays. Representantes da APP Sindicato também compareceram, para informar sobre a existência de uma secretaria de discussões de gênero e falar da importância de se iniciar nos ambientes de ensino a conscientização. Terezinha dos Santos Daiprai, representante do sindicato durante a manifestação disse que “combater a violência é uma questão de princípio humano. Escolas devem ser laicas, não sexistas e não homofóbicas, só o conhecimento liberta o preconceito”. Emocionada, a sindicalista relembra o caso de morte que aconteceu na cidade no dia 17 de novembro e destaca que Guarapuava tem que evoluir. “Afinal, a escola e a universidade educam e tem um importante papel nesse processo”, alega Terezinha.

Foto: Helena Krüger
Pessoas fazem um minuto de silêncio em homenagem a vítimas de violência

Conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos, “todos somos iguais perante a Lei” este artigo é novamente ressaltado pela Constituição Federal “todos são iguais, sem distinção de qualquer natureza”. Infelizmente, muitas das chamadas minorias culturais, não são tratas com igualdade. Muitas vezes, são alvo de muito preconceito e intolerância. Em nossa cidade, já houve vários casos de agressão envolvendo homossexuais, só neste ano foram 12 mortes no Paraná e 220 no Brasil.

Com intenção de modificar esse quadro, os universitários resolveram dar voz a essa indignação, pois acreditam que a cidade por ser muito conservadora, acaba não reclamando destas formas de preconceito. “Guarapuava ainda é uma cidade de coronéis, uma cidade cristã (nada contra as religiões), uma cidade tradicional, então, o preconceito ainda existe, e de uma forma muito forte aqui.” Maxmilliam também concorda e diz que a sociedade guarapuavana se cala muito fácil em diversas questões, não só com a homofobia. “Não sei porque os guarapuavanos sempre se mantêm tão calados, há muita desinformação”.

Foto: Helena Krüger
Nem mesmo a chuva fez com que os manifestantes desistissem de protestar

O acadêmico de secretariado enfatiza que questões homoculturais e de outras minorias, precisam sair da universidade, para que haja efetivamente um debate público acerca do assunto, havendo assim mais conscientização por parte da população. “Ainda é complicado andar por aqui de mãos dadas com o parceiro do mesmo sexo pela rua, as pessoas olham torto e corre-se o risco até de ser agredido. É necessário que as pessoas entendam que o homossexual não quer ser aceito, não quer ser tolerado ou respeitado, mas que é parte da sociedade, tem direitos iguais a todo mundo.”

Lei contra homofobia

A lei contra a homofobia foi idealizada em 2001, que estabelece como crime, entre outras coisas, praticar ou incitar a discriminação por qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica sujeita à pena, reclusão e multa. O que divide opiniões nesta lei, é pelo fato de ser muito rígida e ampla, podendo até mesmo ferir o principio de liberdade de expressão. Ediane Martins, acadêmica de filosofia, diz que não são necessariamente as leis que modificam a sociedade. “Acredito que não precisaria existir leis para questões básicas como o respeito ao próximo”.

Foto: Helena Krüger
Professora do História da Unicentro pede um basta a qualquer manifestação de violência

Willian concorda que a lei que protege os direitos humanos engloba essa questão, mas como ela não é respeitada torna-se necessário que se crie outra para assegurar o direito do cidadão, e também para agravar um crime que é cometido por homofobia. “Se houvesse uma legislação mais concisa e forte relativa aos direitos humanos, não precisaria. Mas assim é necessário criar uma lei para proteger já que os números mostram como a situação é grave“.

Mídia e Imprensa

Maxmiliiam Schneider acredita que o papel da imprensa no processo de ajudar a romper preconceitos é de grande importância, por ser uma formadora de opinião. “Quando a imprensa der voz a essas minorias aí as coisas podem evoluir, mesmo que não consiga romper o preconceito, mas já faz com que as pessoas tentem pensar de outra forma, e enxergar o lado do outro.Afinal, porque tratar o outro diferente se ele é igual”, declara Max. Já o estudante de secretariado critica a mídia na maneira como representa a homossexualidade. Segundo ele, a televisão ao invés de abordar o assunto com uma perspectiva sensacionalista, deveria assumir o seu papel social para ajudar na conscientização. “Na Rede Globo, SBT estereótipos ficam claros, mostram como se todo homossexual fosse afeminado, ou no caso das lésbicas masculinizadas, todo negro atua como empregado em serviço braçal e todo índio vive numa aldeia cercada de mato, no caso de novelas e programas humorísticos, por exemplo”, opina Willian.

Editado por Vinicius Comoti

Um comentário:

  1. Está na hora de enterdemos que somos todos iguais... Eu apoio o fim de qualquer tipo de preconceito, parabéns aos idealizadores deste protesto, só imaginei que teria mais participantes... Mesmo assim, super válido!!!

    Dani.

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