segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Filhos do Coração!


Helena Krüger

Canaã: a esperança de um novo lar

No Brasil, segundo relatório do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), 80 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos no país e apenas cerca de 8 mil (10%) podem efetivamente ser adotadas. Esses meninos e meninas vivem sem ter o direito à convivência familiar, requisito básico no Estatuto da Criança e do Adolescente, além disso, as condições de vida dessas pessoas ferem outro princípio fundamental, que é o da dignidade humana.

Uma entidade mantida por missionários americanos, o Canaan Land Ministries (CLM), chamada no Brasil, de Associação Canaã de Proteção aos Menores, chegou há 12 em Entre Rios com a missão de abrigar e dar segurança a crianças como essas, que moravam nas ruas ou foram abandonadas pela família. O Canaã tem como objetivo criar ambientes seguros, educar com maior amor possível e também ensinar os valores cristãos. Mary Gibson, hoje ex-diretora do CLM Entre Rios, foi uma das fundadoras da instituição no Brasil. “A proposta é recolher crianças que foram abandonadas, rejeitadas, abusadas e que vem para nós através do Juiz de menores ou pelo Conselho Tutelar”.

Desde 2009, com ajudas filantrópicas tanto brasileiras quanto americanas, a instituição conseguiu construir um abrigo em uma fazenda de Entre Rios. O Canaã fica localizado em um local bonito, com uma estrutura que oferece conforto, lazer e principalmente proteção. Apesar de não ser o ideal, já que o lugar dessas crianças deveria ser amparadas em um lar, a entidade tenta suprir com muita dedicação o amor e o carinho que eles não receberam em casa. “Tentamos dar o máximo de amor para que eles se sintam parte do que chamamos de família Canaã, eles são como filhos para nós”, diz Mary.

Fotos: Arquivo da Associação Canaã
O Canaã é um abrigo para crianças e adolescentes mantido por missionários norte- americanos


Hoje, a associação abriga 28 crianças e adolescentes, cada um com uma história de dor, muitos conviveram com realidades de extrema pobreza, rejeição, abuso e sofrimento. Vivências que agridem a pureza e a ingenuidade da infância. Uma fase em que a maior preocupação deveria ser apenas brincar, se divertir e crescer . O CLM também tem uma sede no município de Turvo desde 2006, com capacidade para 35 a 40 crianças. Além dos abrigos, a entidade mantem o Programa CLM Plus, que é destinado a jovens adultos que estão terminando o ensino médio e precisam deixar o a associação quando completam a maioridade. O projeto tem o papel de orientar e encaminhar os jovens para uma universidade. Mary explica a intenção desse do CLM Plus. “A vantagem desse programa é que desenvolve cursos para que os adolescentes alcancem a independência, os prepara no momento de transição, enquanto estão ainda amparados pelo CLM”.
Apesar de ser um entidade que desenvolve um ótimo trabalho, não se pode ver os abrigos como uma solução. Ao contrário, são locais que deveriam ser temporários, mas infelizmente muitas crianças passam anos sem ter garantido o seu direito.

A educação das crianças é baseada em valores cristãos e incentivo ao trabalho


O caso de uma garota que vive no Canaã exemplifica uma situação de abandono. R.C* tem 7 anos, e mora há dois anos na instituição. A menina que diz ter o sonho de ser bailarina quando crescer, foi retirada da mãe biológica e ainda sonha em ter um novo lar . “É que lá na minha casa não é uma família de verdade, não acho que ela seja a minha mãe mesmo, aqui eu me sinto mais amada”. Mesmo gostando de morar no Canaã, ela diz não quer continuar morando ali por muito tempo e fala sobre o seu medo de ficar sozinha e ser adotada sem a irmã. “Eu queria tanto uma família, onde eu me sentisse querida, mas eu quero que minha irmã junto comigo”.

No CLM a assistência vai muito além do material, a preocupação com emocional e a criação de vínculos é essencial

Josiane Ribeiro, hoje pedagoga é um exemplo de alguém que morou no CLM e depois de adulta voltou como voluntária. Ela veio para o Canaã com 11 anos e passou sua adolescência na entidade, quando completou 18 anos recebeu apoio para cursar pedagogia em Curitiba, onde conheceu o seu marido. Depois de alguns anos, Josiane está novamente no Canaã, mora em Entre Rios realizando trabalhos com as crianças assistidas pelo instituto. “Nunca consegui me desligar daqui, e decidi que queria passar para frente aquilo que aprendi aqui”. Ela destaca que o amor que recebeu ali precisava ser retribuído. “É muito bom estar aqui, me sinto até como uma mãe para eles, e acredito que eu posso fazer a diferença na vida deles, já que eles fazem a diferença na minha”.

A moradora de Entre Rios, Clara Milla é uma das pessoas que ajuda as crianças do Canaã, mesmo sem adotar, ela é uma espécie de madrinha de uma menina, já que se propõe a pagar os estudos em um colégio particular e também acompanhar o seu desenvolvimento escolar. “Para gente é muito gratificante ajudar uma organização que faz um trabalho voluntário em nosso distrito”.

O 4º artigo do Estatuto da criança e do Adolescente, talvez seja um dos que mais resume o que seria o mais adequado a uma criança. “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.Como uma forma de amenizar esse sofrimento, segundo Mary, “o Canaã continua realizando o seu trabalho e levando um pouco de luz para aqueles que vivem na escuridão”.

Crianças trabalhando em conjunto para preparar os enfeites de Natal no abrigo

Josiane enfatiza o porque o CLM é especial “ O diferencial aqui são as pessoas, que demonstram carinho, amor, atenção e dedicação para cada pessoa que está aqui”.

*O nome foi preservado por se tratar de menor de idade em situação de risco

Adoção

Hoje, entende-se que a primeira solução para o menor é resgatar o vínculo e se trabalhar com a família de origem, tentando encaminhar essa criança até a chamada família extensa (tios, avós), mas quando isso não é possível a adoção é uma alternativa.

Para se adotar uma criança, segundo a assistente social da Vara da Infância e da Juventude, Luciana Almeida a pessoa precisa passar por algumas etapas. “Inicialmente, o casal deve se dirigir a um curso de apoio a adoção, depois é encaminhado para uma entrevista no Fórum. Só então que deve ser levada toda a documentação para se efetuar o cadastro. Posteriormente, o casal entra em uma fila de espera cronológica.” A assistente social, destaca que é necessário que o casal tenha preparo e maturidade emocional para realizar uma adoção, já que muitas crianças são adotadas e depois são novamente rejeitadas, ocasionando um processo ainda mais traumático. “Infelizmente, muitas crianças ficam de fora do processo, porque há perfis mais procurados, como de 0 a 4 anos, até conseguimos encaminhar adolescentes, mas é uma exceção”.

Para diminuir as dificuldades e morosidade nos processos de adoção, desde 2008 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criou um Cadastro Único Nacional de Adoção, que reúne o perfil das crianças e dos possíveis pais adotivos para que juízes possam acompanhar o processo de maneira mais fácil.

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Outras informações: adotabrasil.org.br

Como ajudar

Associação Canaã de Proteção aos Menores

Endereço:
Faz Canaã, s/n Cachoeira – Entre Rios / Guarapuava - PR
CEP: 85.108-000

Tel:(42) 3631-1019

Email: clm@donau.com.br

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Editado por Vinicius Comoti

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