quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Dívidas: cuidado pra não se atolar...

Giovani Ciquelero

Saber administrar ganhos e gastos parece simples, mas engana muita gente

O primeiro dia do mês é dia de receber salário e começar a fazer as contas. Para alguns, sinônimo de alegria e para outros, preocupação. Parece fácil, matemática básica, ter um montante e não poder gastar mais que isso, mas não é assim que a economia funciona.
Desde a existência dos bancos e do crédito, um indivíduo pode fazer empréstimos e parcelar compra de bens, ou seja, gastar um dinheiro que não tem. Mas como não existe nada de graça, esse indivíduo paga juros por esse crédito.
Por exemplo, o financiamento de um carro popular novo no valor de R$24.500,00, em um prazo de 60 meses sai por quase o dobro do preço inicial. Ao final dos cinco anos, o comprador terá pagado R$ 44.011,00, segundo o site AE Carros.

A situação do Brasileiro

O brasileiro nunca deveu tanto e nunca comprometeu parcela tão grande do salário para pagar as dívidas, segundo dados do Banco Central. Entre cheque especial, financiamentos, crédito consignado, cartões de crédito e outras várias formas, o endividamento da família brasileira chega a 41,8% da renda de um ano somada. Pela metodologia usada nesses cálculos, o endividamento é o total das dívidas de uma família em relação à sua renda somada em um ano. Em uma conta simples, é o mesmo dizer que o brasileiro que tem um salário de R$ 100 anuais, e R$ 41,80 são gastos com as dívidas. Para o economista Simão Ternoski, um dos principais fatores que levam o brasileiro ao endividamento é comprar no “calor do momento”. “É a questão da falta de planejamento, principalmente na hora de comprar. Dá pra perceber que as instituições financeiras oferecem crédito com um juro que parece interessante para o consumidor e, muitas vezes, ele não faz um planejamento de quanto vai pagar. Aí no final acaba pagando um valor bem superior ao que ele poderia pagar se economizasse e comprasse à vista”.

O economista Simão Ternoski aconselha que a melhor hipótese é poupar

A inadimplência é enorme

O índice de perspectiva de inadimplência, medido pelo Serasa, registra queda há seis meses consecutivos em relação ao país inteiro, apesar de ainda ser alto. A situação se reflete em Guarapuava, conhecida como uma das mais inadimplentes do estado, como conta Vanderlei Bortolini, gerente local de uma cadeia de lojas varejistas. “A cidade é famosa pelo baixo índice de renda per capita. A renda do consumidor da classe média e baixa não cresce satisfatoriamente, fica estagnada ou defasada. Devido a isso, alguns realizam a compra sem pensar que daqui alguns meses talvez não consigam pagar”.


Longos prazos e cartazes que chamam atenção do consumidor


Como consequência desse histórico de inadimplência, o consumidor guarapuavano é mais exigido na hora da aprovação de crédito, como revela Bortolini. “Aqui o critério de liberação de crédito é mais aguçado do que em outras cidades do Paraná. Isso torna, muitas vezes, o número de vendas menor do que cidades de porte menor, como Pitanga”.

A diferença de classes

O último Índice de Expectativas das Famílias (IEF), divulgado em agosto pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), fundação pública que tem por finalidade realizar pesquisas e estudos sociais e econômicos, revela que a classe média detém os maiores percentuais de endividamento, enquanto que quem ganha até um salário mínimo, incluso beneficiários de programas sociais, se destaca pelo baixo índice de endividamento.

Consciente com o pouco

Dona Aparecida Ferreira é um exemplo de como administrar o dinheiro suado que ganha. Sua renda mensal se resume a menos de um salário mínimo. São cem reais, em média, como catadora de material reciclável, complementados com cento e oitenta reais que recebe do Bolsa Família.
Mesmo com o pouco dinheiro que ganha, ela sustenta filha e dois netos e com simplicidade define como é planejado o mês. “O dinheiro que ganho no mês é o que tenho pra gastar. Às vezes diminui o feijão, não tem carne... Eu não sei nada desses negócios de banco... Só gasto o dinheiro que eu tenho na mão”.
De vez em quando é preciso pegar algum alimento fiado no mercadinho, mas para Dona Aparecida isso não significa dever. “Eu pego às vezes um quilo de feijão, outro de arroz, mas no final do dia já faço questão de ir lá pagar”.

Aparecida, mesmo analfabeta, dá uma aula de como administrar

Um pouco consumista

A estudante Camila*, 23 anos, admite ser vaidosa e que às vezes compra coisas pouco necessárias com seu salário. Ela não se considera muito consumista, apesar de às vezes acumular algumas prestações em seus dois cartões de crédito. “Compro muita roupa, acessórios, muita maquiagem, cremes, perfumes, esmaltes e coisas desse tipo, tenho mais de 15 frascos de perfume e pelo menos uns 50 vidrinhos de esmaltes de toda cor! Mas não acho que seja um gasto impulsivo”.
Apesar de não concordar, Camila é uma consumista de mão cheia. Compra tudo que é novidade, que tem embalagem bonita, artigos de promoções (ela citou seis sites dos quais recebe e-mails desse tipo). “Fico tentada a comprar e, algumas vezes, mesmo que eu use e aproveite o que comprei, fico pensando se era algo tão necessário, que não faria falta se eu não tivesse comprado. Esse tipo de compra acontece muito mais por eu querer aproveitar a promoção do que por real necessidade”.
Depois de alguns meses sofrendo com contas e tendo que usar o limite do banco, Camila conta está aprendendo aos poucos. “Sempre ficava sem dinheiro para outras coisas, isso contribuiu para eu diminuir os gastos com roupas e nas promoções. Agora guardo dinheiro para o que preciso e, com o que sobra, compro uma ou outra coisa”.

*Camila é um nome fictício, usado a pedido da entrevistada

Época de tentações

O Banco Central, buscando aquecer a economia, vem abaixando a taxa de juros desde agosto com o objetivo de baratear o crédito e incentivar o consumo, principalmente nesta época do ano. O Natal é, ao lado do dia das mães, a época mais lucrativa para o comércio.
Gastar o décimo terceiro e começar o ano com dívidas, apesar da tentação, não é a melhor alternativa, como aconselha o economista Simão Ternoski. “A melhor das alternativas é poupar e tentar fazer uma negociação à vista. Em último caso, se não houver outra possibilidade, o consumidor deve parcelar as compras. Você tem que fazer uma análise muito grande da taxa de juros que está assumindo e, se não tiver alternativa, parcelar, mas em poucas vezes”.

Editado por Mário Raposo Jr.

Nenhum comentário:

Postar um comentário