quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Quem diz não às drogas, diz sim à vida!

Nathana D'Amico

“Até andar cansa”, ele não corre e quando se abaixa para colocar os sapatos, algo que parece tão simples aos meus olhos, pra ele é realmente muito difícil. Não corre, não pula, a resistência física que tinha nos tempos de atleta foi se queimando junto com a nicotina. “Foram quarenta anos fumando”.
Iran José Carneiro, 65, se encantou pelo tabaco quanto tinha apenas 15 anos, junto com seus amigos, iludido pela publicidade que mostrava fumar como algo glamuroso. “Naquela época era chique fumar, por isso que a gente começou. Eu sentia euforia e não parei mais”.

Fotos: Nathana D'Amico
A herança que o cigarro deixou foram as bombinhas de ar

A euforia de fumar por cerca de 40 anos “gerou um enfisema pulmonar (doença obstrutiva crônica), e agora estou aí, já há nove anos sofrendo, por causa disso sinto falta de ar, muita falta de ar e o meu pulmão fica frágil, pega infecção a toa”.
Como o caso de Seu Iran existem centenas de outros, isso porque há muito tempo a utilização do tabaco se tornou um hábito normal na sociedade. Uma normalidade, que por meio da publicidade, acaba estimulando ainda mais o consumo do tabagismo.
O resultado desse hábito parece inofensivo, mas para o ministério da saúde é preocupante, pois cerca de cinco milhões de pessoas morrem por ano no mundo, vítimas do uso do tabaco. Além disso, estima-se que, a cada dia, 100 mil crianças tornam-se fumantes em todo o planeta. Caso as estimativas de aumento do consumo de produtos como cigarros, charutos e cachimbos se confirmem, esse número aumentará para 10 milhões de mortes anuais por volta de 2030.
Para reverter esse quadro, o psicólogo especialista em saúde mental e mestrando em análise do comportamento, Everton Vieira Martins, analisa que nos últimos anos tem se adotado uma política de prevenção ao tabagismo. “Estamos encarecendo o preço do cigarro e o tornando menos acessível, por isso é que as pessoas estão fumando menos. Hoje o preço da carteira é maior, as pessoas não podem fumar em locais públicos, não tem mais propagandas que incentivam o uso do cigarro, percebemos que é bem menos acessível do que já foi”.

Everton Vieira Martins atua como pesquisador
do comparmento humano

Drogas ilegais

Ainda assim, existem outras drogas que em um período de tempo menor são mais devastadoras que a nicotina, como: ópio, morfina, esteróides e anabolizantes, anfetaminas, cocaína, solventes e inalantes.Por drogas entende-se substancias e ingredientes, naturais ou não, que modificam as funções normais do organismo.
Na maioria das vezes são produzidas a partir de plantas, por exemplo, a cocaína é extraída da folha da Coca. Já as drogas sintéticas são produzidas em laboratório como, por exemplo, Ecstasy e o LSD.
Após o uso dessas drogas o funcionamento do organismo é alterado e reage proporcionando um prazer momentâneo. Esse é o motivo que leva as pessoas a buscarem as drogas. De acordo com Martins o efeito que a droga proporciona é que leva a dependência “tanto física quanto psicológica”.
No que se refere à dependência psicológica, Martins explica que se deve prioritariamente aos efeitos. “Normalmente a pessoa usa a droga, porque esta que foi escolhida apresenta um quadro satisfatório para a pessoa depois do uso. A dependência psicológica é, no entanto, uma dependência que envolve uma situação social. Por exemplo, um indivíduo que está usando álcool, por que ele usa álcool? Ele usa devido a uma situação social, porque ele relaxa quando usa o álcool, não é pelo sintoma de abstinência, mas porque é benéfico usar o álcool, que é o prazer momentâneo.”
Ou seja, “dependência psicológica é quando a pessoa mesmo estando com o organismo legal, tem compulsão pelo uso da droga, e isso corresponde ao efeito pessoal, ambiental, social e particular, a função que a droga tem na vida da pessoa”.
Outro lado importante da mesma questão trata da dependência química que as drogas causam no corpo e se caracteriza pelo indivíduo sentir que a droga é tão necessária, em seu cotidiano quanto alimento, água, repouso. Assim o dependente adota comportamentos compulsivos que o levam a consumir substâncias em doses cada vez mais fortes.
A Organização Mundial de Saúde reconhece as dependências químicas como doença. Uma doença é uma alteração da estrutura e funcionamento normal da pessoa, porque mesmo que o dependente se afaste das drogas ele tem uma tendência a querer sempre as substancias químicas.
Quando as substâncias usadas não fazem o efeito desejado, os dependentes costumam buscar resultados satisfatórios em outras drogas. Segundo a enfermeira e coordenadora do CAPS AD, órgão destinado a acolher e cuidar de pessoas com dificuldades decorrentes do uso prejudicial de álcool e/ou outras drogas, Fabiana Vitorassi, a utilização de diversas drogas varia de pessoas para a pessoa, dependendo do tempo e da quantidade de uso.

“Normalmente a maconha é o primeiro passo para as drogas ‘mais fortes’. Alguns dependentes usam só a maconha, o baseado, porque se contentam com a sensação, mas acabam sendo poucos os casos que eles usam uma droga isolado, normalmente quem usa uma droga acaba usando outras”.

Família

Especialista em devastar famílias as drogas afetam diretamente os entes queridos e mais próximos do dependente, sejam pais, cônjuge, amigos, colegas de trabalho e, principalmente, filhos. As crianças por estarem em formação são as mais afetadas. De acordo com Fabiana “existem estudos que comprovam que filhos de pais dependentes serão futuros dependentes. Então, nós tentamos ao máximo conscientizar o dependente, de que ele está sendo espelho da sua família e do seu convívio social”.
Situação que é bem comparável com a história de Berenice*, ela conviveu com um marido alcoólatra durante 13 anos. “Tentei interná-lo, mas ele não queria. Como ele era funcionário público, fui falar até com o prefeito, mas não houve jeito. Então, ele começou a ficar agressivo e ciumento, o expediente de trabalho dele acabava na sexta-feira e de lá ele ia direto para o bar, ficava sexta, sábado e só voltava domingo, dessa maneira não deu pra continuar e nós nos separamos. Mas os nossos filhos viam essas situações, cresceram vendo o comportamento do pai. E hoje meu filho mais velho de 30 anos é alcoólatra. E recentemente descobri que ele estava usando outras drogas”.

Berenice teve sua família afetada pelas drogas mais de uma vez

No caso de Berenice, na família dela o filho não é o única vitima das drogas. “O meu ex-genro usou drogas por 6 anos mais ou menos, por causa disso a relação conjugal deles foi bem difícil, ele chegou a bater na minha filha. E como ele não trabalhava, ele começou a roubar para sustentar o vício. Ela teve que se separar e veio morar comigo, escondida dele”.

* Nome fictício.

Os efeitos variam de pessoa para pessoa

Cada pessoa vai reagir de uma forma diferente, a mudança de comportamento é uma delas. A pessoa pode ter oscilação de humor, por exemplo, um indivíduo calmo pode ficar agressivo durante o efeito das drogas.

Ajuda

Para ajudar os dependentes químicos a largar o vício, existem órgãos como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que auxiliam não só as pessoas que querem deixar as drogas, mas também as pessoas que estão ao redor do dependente. Assistente social do órgão, Mariana Fulfaro, explica como se desenvolve o projeto:

“É um tratamento terapêutico, primeiramente passa pelo assistente social, no caso eu, que faço toda triagem e o cadastro, a partir daí eu avalio e encaminho para um médico e ele avalia se o paciente está necessitando de uma desintoxicação ou de remédio, ele atende o estado clinico. Após isso o paciente é encaminhado aos psicólogos, que irão fazer um acompanhamento individual, além disso existem os grupos de apoio como AA e os grupos terapêuticos. Quando uma pessoa chega aqui, nós encaixamos elas para esses profissionais de acordo com o tratamento que ela precisa”.

Ainda segundo a assistente social, se alguma pessoa que possui dependentes químicos na família e quer ajuda para eles: “Devem nos procurar, e o dependente precisa querer ser ajudado”.

Mariana e Fabiana trabalhando em parceria no CAPS

O CAPS é um programa federal que atua como um instrumento terapêutico psicológico. Segundo Fabiana, o papel fundamental “é a conscientização, tanto dos dependentes quantos das pessoas ao redor como família e amigos.” Por isso, ela ressalta que “o fator mais importante na recuperação é o querer do dependente e ele se conscientizar de que a droga faz mal”.

Onde Fica?
Rua Capitão Rocha, 305
Telefone: 3622-1427

Parar não é fácil, mas é possível!

Gilberto sabe bem disso: “Fumo há 32 anos, nem sei porque comecei, mas as propagadas e os amigos me influenciaram muito. Já tentei para duas vezes, as tentativas foram fracassadas porque acho que a minha questão é psicológica, porque eu não acordo pra fumar e eu durmo mais de oito horas”.

Recentemente Rodolfo Abrantes, ex-vocalista dos Raimundos, banda de rock que alcançou seu auge em 2000, esteve em Guarapuava para partilhar algumas de suas experiências no evento Na Contra Mão. Ele contou que usou vários tipos de drogas, era um dependente químico assumido, e que por várias vezes entrou no palco sob o efeito total de drogas.
Segundo Rodolfo só foi possível parar porque ele teve a ajuda de Deus. Ele afirma que por ele mesmo não conseguiria largar esse vício, mas Deus pode. Hoje segue carreira solo e testemunha que a presença de Deus supera qualquer efeito de droga.



Foto: Vinicius ComotiRodolfo Abrantes toca e conta sua história no Evento
Clique aqui e confira um vídeo da apresentação de Rodolfo

Saiba mais sobre as definições, os históricos e os efeitos de cada droga citada acima:
Bebidas alcoólicas; ópio e morfina; esteróides e anabolizantes; anfetaminas; cocaína; solventes e inalantes; tabaco
* Artigos disponibilizados pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID).

Editado por Giovani Ciquelero

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