sábado, 29 de outubro de 2011

Diferenças “identitárias” e práticas discriminatórias marcam o histórico Guarapuavano


Yorran Barone


Inaugurado na década de 20, o Leprosário São Roque foi peça importante na difusão de preconceitos e pesquisas em saúde

Grupo de homens, mulheres e crianças eram denominados leprosos

Com o intuito de isolamento e pesquisa, além de princípios preconceituosos a leprosos, nosso município quase foi sede de histórico prédio fundado na década de 20. Nesta época, faltou pouco para se confirmar a instalação do Leprosário São Roque, edifício ainda vigente e que teve significativo impacto na história paranaense.
Quando fora anunciada a visita do Cônsul polonês a Guarapuava, que pretendia analisar as terras e, consequentemente, trazer imigrantes, o então prefeito Romualdo Antônio Baraúna implantou uma política para a solução dos leprosos, doentes vistos como um problema e que figuravam relativo número em nosso território, que, na ocasião, pertencia a quase metade do estado.
Como estes ainda eram vítimas de preconceito, esta prática visou excluir qualquer premissa de local insalubre, além de promover outra iniciativa excludente, a de “embraqueamento” da população, que capacitaria o Brasil nos moldes europeus.
A professora do Departamento de História da Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO, Beatriz Olinto, autora do livro “Pontes e Muralhas: Diferença, Lepra e Tragédia”, que possui pesquisas sobre o assunto, conta que a Lepra era considerada um problema, além de uma profilaxia identitária e quando constatada, influenciava diretamente nos aspectos pessoais do indivíduo. “Esta deteriorava a identidade. Se confirmada, o nome sujeito ficava em segundo plano. Se antes era chamado de João, passara a ser conhecido por Leproso João”, relata.
Com a não instalação em Guarapuava, o município de Piraquara, pertencente à região metropolitana de Curitiba, foi o escolhido para a construção e promoveu sua inauguração em 20 de outubro de 1927. Deste modo, todos os leprosos do estado foram internados lá obrigatoriamente. “Isto ocorria, pois não havia cura e este período era fora de grande crença na capacidade da ciência. A Lepra era vista como os pés de barro da técnica”.
Apesar das premissas discriminatórias e de isolamento já citadas, pesquisas em prol da cura também figuravam os motivos desta construção, tanto que a mesma fora descoberta. “Neste período, o Paraná recebia demasiado investimento na saúde. O Leprosário era de última geração e contava com cinema, teatro, quadras esportivas, entre outros. No início dos anos 40, este foi o primeiro a trabalhar com o tratamento por sulfona, diagnosticado como a primeira cura da doença”, explica Beatriz. “O grande problema residia no modelo, que era autoritário e obrigava o isolamento”.
Há, também, relatos daqueles presentes no instituto. Segundo Beatriz, foram várias as experiências compartilhadas no local. “Alguns fugiam para reencontrar familiares, outros se suicidavam e, ainda, ocorreram alguns relacionamentos, culminando em casamento”, finaliza.

Significativos Reflexos

Guarapuava por pouco não sediou o Leprosário São Roque

Quase noventa anos após a instalação, o Leprosário ainda funciona sob a denominação de Hospital Dermatológico do Paraná, que é referência no tratamento da Hanseníase, uma designação da Lepra, implantada em 1976 devido ao estigma dado a esta denominação e também ao fato de que atualmente, com os avanços tecnológicos, novas nomenclaturas foram criadas.
Ocorreu, ainda, em 2007, iniciativa federal que beneficia as famílias dos indivíduos internados a força. De acordo com o decreto 6.168, de 24 de julho de 2007, os pacientes que sofreram tais atitudes em todo o país, até 1986, terão direito à pensão vitalícia mensal no valor de R$ 750.
A Lepra pertence às doenças mais antigas do mundo e há relatos de pelo menos 4000 anos, sendo os primeiros registros encontrados no Egito antigo.

Editado por Helena Krüger

Um comentário:

  1. Brasil, Brasileiros e Autoridades ainda é preciso se fazer muito para que a Hanseníase deixa de ser uma vergonha para o nosso país.
    Acabamos com a Palavra Lepra, Mas não Acabamos com a Hanseníase.
    Jaime Prado, func/serv mais de 35 anos no antigo Asilo-Colonia Aimorés em Bauru/SP.

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