sábado, 29 de outubro de 2011

Um novo olhar para os Deficientes Visuais


Luciana Grande


A Apadevi (Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais) é uma instituição sem fins lucrativos que tem por objetivo buscar soluções e alternativas para que o deficiente visual possa levar uma vida normal e independente. Além disso, um dos propósitos da entidade é proporcionar momentos de aprendizado, lazer e descontração aos participantes.
A instituição foi fundada há mais de 22 anos, em março de 1989, mas a sede atual existe desde 1998, data em que a Prefeitura Municipal fez a doação do terreno. Porém, a construção do prédio foi feita a partir de recursos próprios da Apadevi.
De acordo com Alexandra Cleve, diretora da Apadevi, a iniciativa de criar a entidade partiu de uma família, com o apoio da comunidade. “Uma mãe tinha um filho cego e aqui não existia nenhuma instituição de apoio para deficientes visuais. Então ela começou a fazer uma movimentação: procurou outras pessoas na mesma situação e foi assim que a Apadevi nasceu”.

Os alunos são atendidos individualmente a partir de um cronograma

Hoje, mais de 20 anos depois, a entidade possui cerca de 110 alunos com as mais variadas idades. “Aqui o nosso aluno mais novo tem quatro anos e o mais velho 84. Não há idade mínima e nem máxima para frequentar a Apadevi”, explica a diretora. No entanto, ela atenta ao fato de que a instituição só atende pessoas com deficiência visual (baixa visão ou cegueira). “O deficiente visual que quiser participar só precisa entrar em contato com a equipe, então vamos identificar as necessidades dessa pessoa. Nós também atendemos pessoas com múltiplas deficiências, desde que a visual seja uma delas”.

Os alicerces

A Apadevi possui uma parceria de repasse de recursos com a Prefeitura Municipal e a Secretaria Estadual de Educação. O município fornece o transporte, com vans e motoristas. O Estado paga os professores, que são todos concursados e especializados na área de deficiência visual. Além disso, o governo estadual disponibiliza uma verba extra uma vez por ano, para a compra de materiais de consumo permanentes.
Há, também, a ajuda de voluntários, que contribuem com dinheiro, doação de equipamentos, móveis ou com serviços, como aulas. Entretanto, segundo Alexandra, isso não é suficiente para manter a instituição, já que o restante dos materiais (limpeza, alimentação etc) é adquirido com recursos próprios da instituição. Algo que faz falta para a entidade, segundo a diretora, é uma assistente social e uma psicóloga.
“As pessoas não conhecem a Apadevi, não há divulgação suficiente da entidade. Por isso não há muitas doações. A gente vive no limite sempre, mas toda ajuda é bem vinda. Agora dia 19 de dezembro nós vamos fazer uma divulgação na XV de novembro, espero que isso ajude”, comenta.

No centro de conviência os participantes têm momentos de lazer e descontração

Atividades e projetos

A Apadevi trabalha com vários serviços de apoio ao deficiente visual. Há o OM (Orientação e mobilidade), que auxilia na locomoção dos cegos, oferecendo técnicas para que eles possam aprender a andar sozinhos, esperar um ônibus, utilizar a bengala ao passear na rua etc. Por essa razão, Alexandra ressalta o fato de que é fundamental os professores possuírem plena capacitação da área.
Outro serviço oferecido é o AVA (Atividade de Vida Autônoma), em que é trabalhada a independência do deficiente visual no dia-a-dia dentro de casa. “O AVA é uma casa que temos montada aqui no prédio, com sala, cozinha, quarto e banheiro. A gente ensina os alunos a tomar banho, pentear o cabelo, lavar roupa, arrumar a cama, preparar alguma coisa para comer, ensinamos as meninas a fazer a unha... Várias coisas”, conta a diretora.
A entidade trabalha, também, com o apoio à escolaridade, para alunos que já estão inseridos no ensino básico. Estes participam no período de contraturno escolar e costumam fazer adaptações de materiais, aulas de braile ou soroban, além de participar do AVA e do OM.
Alexandra explica que a maioria dos alunos da Apadevi tem mais de 30 anos. Por essa razão, a alfabetização em braile é muito mais trabalhada com os adultos.
Além dessas atividades, a instituição oferece aulas de artesanato, teatro, música, informática e estimulação visual. Há, ainda, encontros sociais entre os participantes, em que eles se divertem muito. “Toda sexta tem o ‘encontro do chimarrão’ no centro de convivência. Lá eles cantam, dançam, conversam, dão risada e se distraem. Isso é muito importante, principalmente para os idosos, porque em casa eles ficam deprimidos. Para eles a Apadevi é tudo. É uma vida que continua. Quando entram, não querem mais sair”, conta a diretora.
Alexandra comenta que existe uma professora que busca inserir os deficientes visuais no mercado de trabalho. Ela atua buscando oportunidades, como vagas de emprego, bolsas de estudo, cursos, feitio de documentos, entre outras coisas. Tudo isso para motivar os participantes, por isso muitos deles tem a Apadevi como uma segunda casa.
Esse é o caso de Heverton Luiz Rodrigues, que hoje tem 20 anos e é aluno da Apadevi desde os oito meses de idade. Segundo ele, na instituição passou a perceber o mundo de outra forma, aprendeu muitas coisas, teve contato com pessoas iguais a si e fez muitos amigos. “Eu gosto de todos os projetos daqui. A Apadevi só trouxe coisa boa para a minha vida. Acrescenta muito para mim estar aqui. É um lugar em que me sinto muito bem ”.
Heverton está no 3º ano do Ensino Médio e todos os dias, a tarde, vai até a entidade, já que sempre há alguma coisa diferente para fazer. Além disso, o jovem também está estudando para passar no vestibular de Jornalismo. “Eu sempre fui fissurado por música, tecnologia e essas coisas. Quando eu era criança pensava: ‘deve ser tão bom ficar na frente de um microfone, falando um monte de coisas’. Então desde pequeno eu sonho em ser locutor de rádio, por isso resolvi tentar vestibular para Jornalismo na Unicentro”. O rapaz, que mora com a mãe, orgulha-se de ser independente e correr atrás de seus objetivos.
“Muito do que eu sei e do que eu sou devo à Apadevi. Em casa eu faço praticamente tudo sozinho, moro só com a minha mãe e tenho que me virar. A única coisa que ainda não sei fazer é cozinhar, mas acho que se um dia precisar eu aprendo na marra (risos)”.

Heverton é aluno da Apadevi há mais de 20 anos e sonha em ser radialista

Como ajudar
Para contribuir com a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais basta entrar em contato com a equipe.
Telefone: (42) 3622 0617
E-mail: apadevigpva@gmail.com
Endereço: Rua Capitão Frederico Virmond, 3494

Editado por Mário Raposo Jr.

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