Gabriela Titon
É frequente avistarmos cães nas ruas, seja revirando lixos, atropelados ou mordendo pedestres. Os transtornos causados pela situação provêm, em alguns casos, do abandono de antigos donos. Enquanto um deles morre – por descuido de um motorista, velhice, doenças adquiridas por falta de cuidados e tantos outros motivos – vários estão nascendo, aumentando a superpopulação de cachorros que vagam sem rumo pelas calçadas.
Enquanto o descaso de alguns é comum, existem pessoas preocupadas com a questão. A Spag (Sociedade Protetora dos Animais de Guarapuava), que existe oficialmente há cinco anos, realiza ações para minimizar o problema.
Um dos trabalhos bastante conhecidos é a feira de adoção, na qual se encontram animais retirados das ruas que ficam abrigados no canil municipal. São recolhidos especificamente animais doentes, atropelados e, às vezes, cadelas grávidas. A prefeitura fornece o espaço, um funcionário, um veículo e alimentação. Em contrapartida, a Spag realiza o tratamento, com duas veterinárias voluntárias que visitam semanalmente o local. Segundo a advogada e presidente da entidade, Rosamaria Borges Vieira Feracin, cerca de 500 cães já ganharam um lar por meio da feirinha.
Foto: Gabriela Titon
Cães abandonados representam questão de saúde pública
Castração
Os entraves para a resolução do problema esbarram, especialmente, na falta de políticas públicas relacionadas ao assunto. O principal recurso para solucionar o elevado número de cachorros nas vias é a castração.
De acordo com Rosamaria, a Spag realiza a ação por meio de convênios com clínicas veterinárias. Entretanto, em pequenas proporções, já que seria necessário, segundo ela, entre R$ 300 mil e R$ 400 mil para que houvesse uma castração em massa. “Os órgãos públicos deveriam investir esse dinheiro, porque é uma questão de saúde pública, e não somente de proteção aos animais. Enquanto não tiver um programa de castração em massa, não vai diminuir”.
A clínica veterinária do campus Cedeteg da Unicentro é uma das parceiras que realizam o procedimento gratuitamente. Contudo, como o orçamento é limitado, o número também é escasso. O local atende, principalmente, cavalos machucados ou doentes encaminhados pela ONG.
Maus-tratos
Uma das vertentes de atuação da Spag é o combate aos maus-tratos. A instituição recebe denúncias e, em parceira com a Polícia Militar e a Prefeitura de Guarapuava, responsabiliza quem praticou a ação.
A lei federal 9.605, de 1998, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais, discorre sobre questões relacionadas à fauna e à flora nacionais. O artigo 32 afirma que praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais é crime, sendo a pena detenção de três meses a um ano e multa.
Além de cães e gatos, os cavalos também sofrem cotidianamente com a situação. “Com os cavalos, é mais complicado, porque eles estão transitando e não dá tempo de chamar a polícia. Além disso, os donos não querem parar quando a gente aborda”.
Conforme Rosamaria, alguns proprietários já foram pegos em flagrante. Nesses casos, o animal é tomado e encaminhado para chácaras de voluntários. Após o processo criminal, os cavalos são doados. “O último que pegamos na rua estava tão fraco que caiu no chão. E depois não resistiu, acabou morrendo”.
Em alguns municípios, segundo ela, existem leis que proíbem carroças e, consequentemente, animais de tração. “Infelizmente, a população não tem cultura suficiente e educação para tratar de um cavalo. Por mais que a gente conscientize, os carroceiros reincidem. É muito caro para manter um animal de tração, e a pessoa muitas vezes mal tem condições para o sustento da família, como é que vai cuidar de um animal? A nossa intenção é proibir o tráfego, porque de outro modo os maus-tratos nunca vão acabar”.
Identificação
Este ano, um projeto de implantação de chips em cães está sendo desenvolvido, em parceria com a Prefeitura de Guarapuava. Desta forma, os aproximadamente 150 animais do canil municipal poderão ser rastreados após a adoção. O Chip Legal Canino foi lançado no final de setembro. O programa inicial foi criado em 2010, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, mas destinava-se somente aos cavalos.
“Recebemos a doação particular de um leitor de chip e um notebook, e a prefeitura compra os microchips. Não sairá animal para a feira sem estar com o chip. A gente colhe os dados de quem adotou, coloca no sistema, e se o cachorro for encontrado na rua, vamos responsabilizar o dono”.
A entidade também está se mobilizando para criar uma lei que obrigue a implantação de chips nos demais bichos de estimação. Conforme explica Rosamaria, a medida é necessária para que seja mais fácil identificar e tomar as medidas necessárias caso um cão ou gato seja abandonado e/ou maltratado.
Conscientização
A presidente da Spag estima que apenas 20% dos animais encontrados nas ruas não tenham dono, o restante foi abandonado. Para conscientizar desde cedo sobre a responsabilidade de se ter um bichinho de estimação, outra atividade iniciada em 2011 são palestras de cunho educativo ministradas nas escolas.
A iniciativa pretende atingir todas as instituições de ensino de Guarapuava, tanto públicas quanto particulares. Para isso, precisa-se de voluntários, já que a sociedade protetora dispõe de material educativo necessário.
As conversas com os estudantes envolvem a noção de posse responsável, que significa cuidar adequadamente do animal adotado. Isso inclui, para um cão, levá-lo para passear diariamente, caso ele fique preso na residência; dar água e alimento suficiente; encaminhá-lo ao veterinário; fazer castração; não maltratá-lo e abandoná-lo, entre outras atitudes que demonstrem proteção.
Solidariedade
Para colaborar com a Spag, o contato pode ser feito por meio do telefone (42) 3035-6900 ou pelo e-mail spaguarapuava@yahoo.com.br. A conta poupança para realizar depósito é 217604-0, agência 0389, operação 013, na Caixa Econômica Federal. A instituição também possui um carnê mensal de R$ 10 para quem quiser contribuir. Além disso, o órgão precisa de voluntários, independente da área de atuação profissional. Atualmente, são cerca de 10 pessoas envolvidas ativa e diretamente nas ações da entidade.
Editado por Helena Krüger
Nenhum comentário:
Postar um comentário